LIÇÃO 9: Pessoas precisam de pessoas

LIÇÃO 9: Pessoas precisam de pessoas

Uma lição muitas vezes só vem quando sentimos falta de algo. Temos tido em abundância novas experiências nesta jornada, porém já estamos sentindo muita falta de algumas coisas… duas delas são PESSOAS importantes que estão distante e a outra é o FUTEBOL. Abaixo vou explicar o que estas duas tem a ver com esta lição.

Descartado no futebol

Estávamos no Equador, era uma tarde de domingo com muito sol, durante um passeio por um bonito parque avistamos uma turma jogando futebol… perfeito, pensei eu. Chegamos perto, usando a camisa do Brasil (pensei que isto ajudaria), depois de uns 5 minutos para tomar coragem, perguntei com uma quase certeza da resposta positiva: “posso jogar com vocês?” (claro que em um sofrido espanhol) minha grande expectativa foi frustrada com uma resposta negativa e a justificativa foi de que já tinha muita gente. Nossa! Sem saber muito bem o porque, eu me senti muito mal, desnecessário, descartável e impotente. E isto se repetiu em um formato parecido na Colômbia e outra vez na Nova Zelândia. Ainda estou buscando entender bem o porque deste forte sentimento de descarte (além do que seria normal diante de uma resposta negativa), porém deixando agora de lado uma avaliação mais profunda, de uma coisa tenho certeza, da próxima vez que estiver jogando futebol (seja onde for) vou prestar mais atenção para com as pessoas que estão em volta assistindo, talvez elas estejam na mesma situação que eu estive.

Pessoas importantes e distantes

Eu e a Rakel temos percebido como amigos e familiares fazem falta em uma rotina. Em nossa experiência durante este ano, não ficamos com as mesmas pessoas por mais de 4 ou 5 dias, e nossa média é dormir em um lugar diferente a cada 2 ou 3 dias. A transição física é tranquila comparada a transição dos relacionamentos. Iniciar novos relacionamentos com tanta frequencia, sempre iniciando com coisas básicas como “com o que você trabalha?” e “o que você gosta de fazer?” e raramente aprofundando uma conversa, faz com que valorizemos ainda mais nossos amigos e familiares. Por isto a frase que aprendemos com o nosso amigo Tércio “dê flores em vida” ou uma adaptação “dê flores enquanto você está perto”, faz ainda mais sentido agora.

Relacionamentos rápidos, inesperados mas relevantes

Quando lembramos dos lugares que passamos, temos uma lembrança especial dos lugares que envolveram pessoas. Alguns albergues simplesmente dormimos e partimos, outros, além disto, tivemos a oportunidade de conhecer pessoas e é impressionante a diferença que isto faz em nossa lembrança. Muitos destes relacionamentos começaram alguns minutos antes de partirmos (infelizmente), normalmente com a pergunta básica de mochileiros “de onde você é?”, e aqueles minutos de conversa com pessoas de lugares muito diferentes e as trocas de experiências foram surpreendentemente relevantes, normalmente gerando um grande desejo de permanecermos por mais tempo próximos daquelas pessoas. Uma experiência muito marcante neste aspecto foi um encontro inusitado em um Hostel de Évora (Portugal), onde percebemos que havia no mesmo hostel pessoas de 6 continentes (Oceania, América do Sul, América do Norte, Europa, África, Ásia).

A vida perde a graça sem elas

Mais recentemente ficamos em um albergue gigantesco praticamente sozinhos, só com os funcionários. Andar pelos longos corredores silenciosos dos quartos não dava uma sensação tão ruim quanto comer a sós em um refeitório para umas 100 pessoas. Faltava o barulho dos talheres, das cadeiras, dos passos e das portas batendo, a conversa alta dos grupos, as risadas escandalosas, faltava gente naquele lugar. Em um outro albergue tivemos o mesmo sentimento ao ocupar um dormitório de 10 camas, vazio. Vamos confessar que as vezes não é muito agradável com elas, alguns roncam, outros chegam bêbados no meio da noite e ainda querem conversar contigo, mas é pior sem elas, pois sentimos falta de conviver com pessoas, e não faz sentido ocupar um espaço tão grande sem a presença delas.  Já aproveitando, o inverno não é a melhor época para viajar, as vezes parece que você é o único turista na cidade, e todos os moradores dali parecem estar aproveitando o calor de suas lareiras enquanto tomam chocolate quente.

Não dá para viver isolado

A Raroway não teria chegado onde chegou se no nosso caminho não houvessem pessoas que nos ajudaram com apoio, inspiração, informação, tradução, carona, orientação, hospedagem, indicação, conselhos, referências, e de muitas outras maneiras, a quem somos muitíssimos gratos.

Nossa personalidade não é do tipo que gosta de estar cercada por pessoas a todo tempo e talvez por isso não dávamos muito valor a esse lema difundido na igreja que participamos, “pessoas precisam de pessoas”, porém neste ano temos comprovado de diversas maneiras que essa é uma verdade.