Cenário de uma tragédia humana em Berlin

Cenário de uma tragédia humana em Berlin

Separamos um dia em Berlin para conhecermos um campo de concentração que fica a 35 km ao norte da cidade. Sachsenhausen foi projetado para ser o campo de concentração modelo para os outros que seriam construídos e por suas portas passaram aproximadamente 220 mil prisioneiros entre os anos de 1936 e 1945 e destes em torno de 100 mil morreram ou executados ou pelas condições extremamente precárias a que foram submetidos. Homens, mulheres e crianças, que por sua escolha política, sexual, religiosa ou por terem nascidos em certos lugares eram considerados inferiores e este era o lugar para eles durante o regime nazista. Dentre tudo que ouvimos, talvez o que mais nos chamou a atenção foi o fato de eles usarem as cinzas dos corpos cremados para tapar buracos nas estradas. O holocausto levou mais de 6 milhões de vidas. Como alguém disse: “A morte de uma pessoa é uma tragédia, a morte de milhões é estatística”.

O lugar passa uma frieza impressionante e entrar pelas portas dos prédios que permaneceram, nos fez refletirmos mais uma vez com relação ao que gera no ser humano tamanha maldade e crueldade e quão distantes estamos nós disto.

Diante desta reflexão, 2 aspectos nos impressionam muito, principalmente por nos aproximarem muito aos fatos que ocorreram:

1 – Isto terminou há SOMENTE 65 anos. Comparando com o tempo de existência da humanidade, 65 anos é ONTEM. Uma história cruel de mil anos atrás, gera um sentimento de distância do fato ao ponto de acreditar que a humanidade já estaria “curada” e evoluída, ao ponto de não cometer mais o mesmo erro. Porém as bombas atômicas, a escravidão e o holocausto ocorreram 2, 3 ou 4 gerações atrás, será que o ser humano mudou de lá pra cá?

Semana passada, lemos na Zero Hora sobre uma mulher que foi condenada à pena de morte por apedrejamento no Irã por adultério. Por ter sido noticiado no mundo inteiro, eles alteraram a pena para enforcamento (como se mudasse muita coisa). A notícia ainda conta que desde 2006, sete mulheres morreram por apedrejamento, sendo que algumas sem provas concretas, somente pela “intuição” do juiz. A descrição de como é a morte impressiona, os homens são enterrados até a cintura (o que permite que se defendam com os braços) e as mulheres até o peito (com as mãos enterradas também) e as pedras tem que ser pequenas para não matar de uma vez. Talvez isto responda a pergunta que fiz acima.

2 – Não era o Hitler que pessoalmente torturava ou executava as pessoas. É sempre mais fácil para a humanidade apontar um culpado e apontar para ele como se ele tivesse pessoalmente e sozinho feito tudo. Na verdade eram milhares de pessoas que colocavam as ordens de Adolf Hitler em prática, quem sabe até acrescentando um pouco de maldade ou algumas, claro, executando a contra-gosto.

Quando pensamos no Hitler como responsável, é muito fácil o definirmos como louco e doente e o mantermos bem distante da nossa realidade. Porém quando pensamos que os executores eram pessoas comuns, que tinham filhos, família, casas, cachorros e faziam churrasco de final de semana contando piadas, fica muito claro pra mim que todos temos um potencial de maldade muito grande adormecido (ou não).

Durante nossa jornada temos ouvido histórias de conflitos e execuções reais e muito recentes e percebemos que realmente só chegam aos nossos ouvidos informações que não ameaçam grandes lideranças do nosso mundo. Na época do holocausto eram poucas as pessoas que sabiam da realidade, inclusive eram feitas propagandas falsas para o país em geral, passando uma imagem de que os campos de concentração eram um lugar bom de se estar e se viver.

A duas perguntas que ficam:

  • Será que nossos netos, viajando pelo mundo, vão dar uma passada pela bonita e reconstruída Bagdá para ver como tudo aconteceu na guerra do Iraque e tirar uma foto onde ficava a estátua do Saddam Hussein?
  • O que podemos fazer para evitar estas tragédias enquanto estão ocorrendo e permanecem encobertas?

Nós (casal RARO) assumimos que somos relativamente bons em “não fazer coisas”, como não usar drogas, não matar, não roubar, porém temos MUITO a evoluir no quesito “fazer algo” em situações que percebemos haver injustiça ou desigualdade. Este é o nosso desafio!

Veja aqui as fotos de Berlin e do campo de concentração.